segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

ALFABETIZAÇÃO: COM RECEITA OU NÃO?

Postei este texto para realizarmos uma reflexão sobre nossa prática em sala de aula e para que se abra a discussão de como tornar o ensino-aprendizado algo mais atrativo e encantador. Boa leitura!!! Lembre-se de deixar seu comentário.
RECEITA DE ALFABETIZAÇÃO
            Pegue uma criança de seis anos e lave-a bem. Enxugue-a com cuidado e enrole-a num uniforme e coloque-a sentadinha na sala de aula. Nas oito primeiras semanas, alimente-a com exercícios de prontidão. Na nona semana, ponha uma cartilha nas mãos da criança. Tome cuidado para que a criança não se contamine no contato com livros, jornais, revistas e outros perigosos materiais impressos. Abra a boca da criança e faça com que ela engula as vogais, quando tiver digerido as vogais, mande-a mastigar, uma a uma, as palavras da cartilha. Cada palavra deve ser mastigada no mínimo 60 vezes, como na alimentação macrobiótica. Se houver dificuldade para engolir, separe as palavras em pedacinhos. Mantenha a criança em banho-maria durante quatro meses, fazendo exercícios de cópia. Em seguida, faça com que a criança engula algumas frases inteiras. Mexa com cuidado para não embolar. Ao final do oitavo mês, espete a criança com um palito, ou melhor, aplique uma prova de leitura e verifique se ela devolve pelo menos 70% das palavras e frases engolidas. Se isto acontecer, considere a criança alfabetizada, enrole-a num papel bonito e despache-a para a série seguinte. Se a criança não devolver o que foi dado para engolir, recomece a receita desde o inicio, isto é, volte aos exercícios de prontidão. Repita a receita quantas vezes forem necessárias. Ao fim de três anos, embrulhe a criança em papel pardo e coloque um rotulo: “aluno renitente”.
Professora Marlene Carvalho (UFRJ).

ALFABETIZAÇÃO SEM RECEITA
            Pegue uma criança de seis anos, ou mais, no estado em que estiver, suja ou limpa e coloque-a numa sala onde existam muitas coisas escritas para olhar e examinar. Servem jornais velhos, revistas, embalagens, propagandas, sacolas de supermercados, encartes, enfim, tudo que estiver entulhado nos armários da escola e da sua casa. Convide a criança para brincar de ler, adivinhando o que está escrito: você vai descobrir que ela sabe muitas coisas. Converse com a criança, troque ideias sobre quem são vocês e as coisas de que gostam e não gostam. Escreva no quadro algumas coisas que foram ditas e leia para ela. Peça a criança que olhe as coisas escritas que existem por aí, nas lojas, nos ônibus, nas ruas, na televisão. Escreva algumas destas coisas no quadro e leia para e com a criança. Deixe a criança cortar letras, palavras e frases dos jornais velhos e não se esqueça de mandar limpar o chão depois, pra não criar problemas na escola. Todos os dias leia em voz alta para a criança: histórias, poesias, noticias de jornal/revista, anedotas, adivinhas, letras de músicas, etc. mostre para a criança tipos de coisas escritas que talvez ela não conheça: um dicionário, catalogo telefônico, um livro de receitas, uma carta, etc. Desafie a criança a pensar sobre a escrita e pense você também. Não se apavore se a criança estiver comendo letras (até hoje não houve caso de indigestão alfabética). Acalme a diretora e a pedagoga, se elas ficarem alarmadas.
            Invente sua própria cartilha. Use sua imaginação e sua capacidade de observação para ensinar a ler. Leia e estude você também.     
Fonte: TURRA, V.F. & VIESSER,J.A. O pensar e o fazer pedagógico em alfabetização. PUC – novembro/2000.


3 comentários:

Anônimo disse...

Prefiro sem receita...parece mais coerente com os estudos mais recente na área da cognição.

Joyce Pianchão disse...

Pati, estou aqui para agradecer a visita e o comentário. Aproveitei também para conhecer o seu espaço e gostei muito! Somos do mesmo signo e estamos igualmente interessadas por uma educação melhor. Sendo assim, temos muitas ideias para trocar, não é mesmo? Feliz 2011 para você! Abraço, Joyce.

Edilene disse...

Eu adoro esses textos, sem receita é bem melhor! Beijos